11 janeiro 2016

O que diabos é água?

Prometer que não vai desperdiçar mais um ano pelo resto da vida seria mais uma daquelas metas que nunca se cumprem; se não dependesse do ponto de vista.

Depois que me toquei pela primeira vez de que os dias realmente passam e que de tempos em tempos eventos acontecem e, como consequência, certos detalhes são mudados pra sempre, comecei a documentar cada evento, sem me importar com a relevância e de forma que nem eu mesma possa me editar. Tenho descrições detalhadas sobre sintomas de doenças, lembretes de momentos que me pareciam terríveis (e que na verdade não eram tanto assim), textos melosos sobre sentimentos esquisitos, caixinhas com panfletos e recibos e, por fim, selfies bem mal enquadradas que mostram como meu rosto não mudou absolutamente nada em três anos. 

Talvez seja simplesmente falta do que fazer, vontade de deixar minha marca pessoal no universo ou expectativa de que um dia tenha pessoas pra compartilhar isso tudo, mas a verdade imediata é que me faz ter uma visão concreta da passagem do tempo e, assim, posso organizar pensamentos, já que minha cabeça é tão pequena que não cabe mais nenhum.

Ter consciência do que como, do que visto, do que ouço e do mundo ao me redor me tornou: 1) uma curiosa ensandecida; 2) uma versão melhor de mim mesma. Foi e é uma das maneiras mais divertidas de lidar com as questões que mais me atormentavam - olhar pros lados e me lembrar que isso é água e que as pessoas cansadas só precisam, por ora, de pelo menos um bom sorriso de verdadeira gratidão e que eu tenho o poder de proporcionar isso. Claro que não é fácil sair falando com as pessoas como se tivesse me tornado extrovertida do dia pra noite, mas nada me impediu de ter educação e empatia; de sair do castelo que construí a minha volta e então compreender o exterior dele, bem como perceber detalhes do interior que nunca haviam sido notados.


Lembrar constantemente de que isso é água nada mais é que uma maneira de manter um ponto fixo no carrossel que nunca para; assim sei que ainda existe algo a que se segurar quando eu tiver a impressão que a minha vida se tornou apenas uma busca insana por cereais.

A versão que busco agora sobre como não "desperdiçar o resto da minha vida" é a que não me deixe me trancar em lugar algum, seja dentro ou fora dos meus pensamentos; que eu tenha a liberdade de navegar entre os dois e a coragem de interligá-los ora ou outra. Que nunca me deixe estar em solidão, mas em solitude, e que eu não desista de caminhar, mesmo se um grande elefante estiver resolvido a se deitar na estrada.

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